quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O guerreiro que vai à guerra


Frei Davi comandando milhares de militantes em todo o Brasil em prol das cotas

Por Luiz Augusto

São Paulo, sábado ,12h30, o sol está escaldante chego a sede da Educafro, na rua Riachuelo,45, na região central de São Paulo. Logo sou recepcionado por um rapaz chamado Marcos, um universitário que faz faculdade de Ciências Jurídicas através de uma bolsa adquirida graças a ONG. Digo a ele que quero falar com o frei e ele me encaminha para falar com Eduardo Pereira diretor da Educafro que, me diz “O frei esta um pouco atarefado mas se quiser pode esperar.”Foi o que fiz durante 2 horas, nesse tempo conversei com várias pessoas, assisti a uma reunião de novos alunos, li informativos, revistas, jornais e um livro sobre jornalismo até que fui chamado por uma funcionária que me pediu pra segui-la a uma sala, e depois falou-me”Desce as escadas e pode entrar na sala em frente”. Fiz o que ela me falou e cheguei a um escritório no subsolo que continha estantes com livros, mesas com computadores, quadros e cartazes afros.

Um minuto depois frei Davi chega, com seus 1, 68 m ,usando óculos de grau, com barba grisalha vestindo uma calça jeans, camisa de manga longa listrada nas cores branca e bege, camiseta preta por baixo e com sua voz grave me diz”boa tarde meu rapaz”. Logo começamos a conversar.


Seu nome é Davi Raimundo dos Santos. Ele nasceu em 17 de julho de 1952, em Nanuque, Minas Gerais. È frade franciscano da Ordem dos Frades Menores(OFM)na Província da Imaculada Conceição do Brasil. Formado em Filosofia e Teologia pelo Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, com especialização em Teologia Sistemática na Pontifícia Universidade Nossa Senhora da Assunção de São Paulo. Ele tem mestrado em Teologia Litúrgica com ênfase em Inculturação, pela mesma faculdade, cursou as duas ao mesmo tempo. Entre, cursos, seminários, congressos, dos mais variados temas, foram mais de 25 participações.

Sofreu muito preconceito nos tempos faculdade e disse.”Sofri racismo na sociedade como um todo, não diferente do que é normal” Hoje vive em São Paulo para comandar da sede da sua ONG. Teve por muitas vezes vontade de fazer mestrado e doutorado mas disse a si mesmo.”Enquanto a maioria do povo negro não tiver acesso a mínima graduação, e igualdade de ensino identicos as dos jovens brancos da classe média, eu não tenho direito de continuar os meus estudos.”

Depois de tomada tal decisão, começou uma luta intensa no movimento negro que já dura 37 anos. Sentindo a necessidade de oferecer mais perspectivas para jovens e adultos carentes fundou a Educafro (educação e cidadania para Afrodescedentes Carentes) na Baixada Fluminense, subúrbio carioca. Encontrou alguns problemas para dar continuidade ao projeto e disse.” As dificuldades que apareceram foram de infraestrutura e financeira. Começamos numa sala dentro de uma igreja, com cadeiras, uma lousa, professores e coordenadores voluntários da própria comunidade, que hoje já conta com 230 núcleos espalhados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Em virtude de sua vida na militância já percorreu mais de vinte países como: Israel, Peru, Equador Bolívia, Estados Unidos, Cuba entre outros. Mas a viajem que mais se orgulha é sua ida para Guatemala, onde conheceu alguns descendentes dos Garifunas. Grupo étnico formado pelos escravos africanos Arauaqui e por índios Caraíbas.

Gosta muito de fazer leituras de livros sobre historias modernas, produções cientificas, religiosos, sociologia e jornais diários. Mesmo tendo uma historia de vida interessante, não gosta da idéia de escrever uma biografia sobre sua vida. È considerado para algumas lideranças afrobrasileiras como a maior liderança negra da nação, mas não se considera como tal e diz”. Não me considero como uma referencia, a consequencia disso é, que sou muito procurado por causa desse fato. Eu acabo tendo essa fama, pela atividade que faço, mas o nosso trabalho é voltado a servir uma causa do ensino”.

Foi entrevistado por diversos veículos de comunicação como, jornais, revistas, emissoras de TVe rádio. Diariamente é chamado para ministrar palestras, frequentar lugares requintados em todo Brasil. Mas o seu maior prazer é estar de perto, coordenando a sua ONG e ver que pessoas de todas as etnias que participaram dos cursinhos da Educafro conseguiram realizar o sonho de fazer um curso superior através de muita luta e garra e diz”Não me arrependo de nada que fiz, luto por um Brasil mais plural no ensino”.conclui.

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