segunda-feira, 8 de junho de 2009

História e beleza à mercê de mendigos




Um dos monumentos mais importantes da cidade, o monumento Mãe Preta
se encontra em péssimas condições de preservação

Por Luiz Augusto


A cidade de São Paulo possui milhares de babás, na maioria delas mulheres negras que trabalham honestamente cuidando de crianças brancas em casas de famílias da mesma etnia. Diariamente, são discriminadas pela sociedade, são mal remuneradas e não tem seus direitos respeitados, mas só algumas delas sabem da existência de uma obra em homenagem a sua profissão. Essa obra e o monumento Mãe Preta.




Conhecido por muitos, apreciado por poucos, muitas pessoas não sabem que existe as poucas que sabem, não dão a devida importância. Diversos motoristas passam tão pressados pelo local com carros, motos e ônibus barulhentos que não vêem o monumento de uma mulher com seios grandes amamentando uma criança em plena praça pública a céu aberto no centro da cidade.


As poucas pessoas que chegam perto para apreciar, observam com olhar de admiração, esse é o sentimento a estátua. Uma mulher negra oferecendo leite a uma criança, essa é a visão que os pedestres tem à primeira vista. A obra está localizada atrás da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em sua lateral esquerda, no Largo Paissandu, região do centro da cidade. Foi construída por Julio Guerra e inaugurada no dia 25/01/1955. A construção do monumento foram usados bronze e granito, suas medidas são: peça 2, 20mx 2,60 x 1,60. e o pedestal 1,44x 2,97 x 1,80.

Todo monumento tem como objetivo homenagiar uma pessoa pública acontecimento histórico e também tem a função de guardar na memória do povo, algum fato ou personagem que marcaram época. O monumento Mãe Preta foi esculpido em homenagem as escravas que ajudavam a criar e amamentar os filhos dos senhores do engenho no tempo da escravidão. Mães de leite eram comuns naquela época as escravas tinham seu trabalho aumentado cozinhando, lavando, e amamentando duas crianças ao mesmo tempo. A prática era tão grande que, autoridades fizeram um controle médico para evitar o contágio de doenças.

Quem teve a iniciativa de homenagear a obra, foram integrantes de um salão de baile da década de 50 chamado Clube 220. Frequentado por negros que se reuniam para dançar samba rock, e presidido na época por Frederico Penteado era localizado no edifício Martinelli no centro da cidade, que por sua vez levaram a proposta para vereadores da cidade que discutiram o assunto que em seguida virou projeto e foi aprovado.

O local possui ao seu redor comécios de de diversos tipos.Apesar de várias pessoas transitarem pelo local aonde se encontra a estátua, são poucas as que param para apreciar e tirar fotos da obra. Alguns motivos que fazem as pessoas não pararem, alguns são: furtos, roubos, usuários de drogas, lixo, forte cheiro de urina e
fezes, e a grande quantidade de mendigos que permanecem no lugar. Cansado de ver a prática de vandalismo no local e revoltado com o descaso das autoridades,o jornaleiro Luís Pumba,47,


dono de uma banca de revistas e filmes antigos no Largo Paissandu há 30 anos, fala que a falta de conservação por parte da prefeitura é muito grande e diz que os drogados e mendigos fazem suas necessidades em cima da estátua e jogam lixo em volta dela e também quando o Pitta(ex prefeito da cidade)tinha uma grade com mais de 2 metros de altura que, cercava o monumento, mas quando a Marta(ex prefeita de cidade) entrou ela tirou. Porém, sua esposa Elisabete Gomes Mota, 36, fala que o que estraga a conservação do monumento são os moradores de rua e diz os assaltantes espantam os
visitantes do monumento já foi feito até um abaixo assinado no ano passado e levado para a subprefeitura da sé, mas não adiantou nada.

O monumento é bonito, a estrutura é boa, mas a ausencia de conservação, mau cheiro,falta de segurança é demais. Só as pessoas que moram ali é que ficam ao lado do monumento, o resto nãopara ali para tirar fotos com receio de serem roubadas, diz Alex Silva, 25, ambulante
que passa pelo lugar há sete anos. Questionado sobre qual a solução para o problema Alex disse:” precisaria de uma reforma completa na praça e um espaço livre em torno do monumento”.

A estátua foi tombada pelo CONPRESP (Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo) em 2004 pelo seu valor cultural, mas isso não impede que ela esteja em péssimo estado de conservação.

A falta de limpeza e conservação no monumento Mãe Preta tão grande que os dizeres "Na escravidão do amor, a criar filhos alheis, rasgou qual pelicano as maternais entranhas, e deu a pátria livre, em holocausto, o seios " gravados no pedestal da obra é muito ruim de enxergar e entender, pelo fato do pedestal estar muito Pedestal da obra sujo. Algumas pessoas que passam pelo local durante o dia e colocam flores, rosas e dinheiro que são furtados pelos mendigos.

Quando escurece a situação fica ainda pior, a iluminação precária, a falta de policiamento e a grande quantidade de mendigos, usuários de drogas e ladrões que ficam em volta do monumento formam uma perfeita combinação que fazem com que as pessoas evitem ao máximo transitar pelo local. Segundo Elizabete á noite ficam mais de 40 pessoas entre mendigos e drogados, e eles transformam o lugar num verdadeiro inferno, fazem fogueira, usam e traficam drogas e ainda, argumenta.” a policia passa e só olha”.


O escultor

Nascido e criado no bairro de Santo Amaro, zona sul da cidade de São Paulo, o escultor Julio Guerra tinha como inspiração as ilustrações da revista Malho. Entrou em 1930 para a faculdade Belas Artes. Nove anos depois ganhou um prêmio e foi estudar na Itália. Por causa de seus trabalhos se tornou assistente de Vitor Brecheret (na construção do monumento Duque de Caxias) e chegou a fazer esculturas funerárias no inicio de sua carreira. O artista esculpiu várias obras como bustos, estátuas e painéis, mas sua obra mais famosa foi o monumento Borba Gato com mais de dez metros de altura e que pesa 40 toneladas localizada na Avenida Santo Amaro, foi construído em sua casa e demorou seis anos para ser esculpido. Seu trabalho era voltado para uma linguagem figurativa. Morreu aos 89 anos no ano de 2001.


Programa de Manutenção


O DPH (Departamento de Patrimônio Histórico) possui o programa “Adote uma obra artística". O projeto existe há nove anos e tem convênios com grandes empresas e empresários. Têm o objetivo de precuperar obras em péssimo estado de conservação. No caso do monumento Mãe Preta é o grupo Votorantin que está encarregado de fazer a manutenção e restauração dessa e mais dezessete obras. Mas o fato do monumento estar sobre a os cuidados de empresas privadas não significa que ele fique limpo diariamente. Maria Angélica responsável pela irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos fala que a placa de preservação de empresas existe mas, não é feita conservação alguma e diz “se não colocarem uma grade cercando a praça e o monumento, ela vai continuar servindo de cassino para os mendigos”.


Descontentamentos

Apesar do monumento homenageando um acontecimento do período da escravidão, ter sido idealizado e simbolizado na conquista da comunidade negra, pessoas ligadas a entidades negras fazem críticas a homenagem. Alguns criticam a forma como a mulher foi retratada, outros queriam ver mais negros homenageados. O professor de História e militante do Movimento negro Evaristo Pinto, fala que o monumento retrata a forma animalesca com que as mulheres negras eram tratadas. Ela não tinha diferença alguma em relação a um animal como: vacas e cabras. Quanto a preservação ele diz "a preservação dos monumentos é feita de acordo com a sua importância". Já Maria Angélica ex freqüentadora do Clube 220 e, que esta no local a 57 anos diz" o monumento é louvável mas, a mulher negra deveria ser homenageada num contexto de vitória"


Fontes

Jornal Metro News Sul
Data- 18/05/1999

Diário Oficial
Data- 14/05-1988

Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

DPH (Departamento de Patrimônio Histórico)

Arquivo Histórico Municipal de São Paulo


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