segunda-feira, 11 de maio de 2009

CONSELHOS PARA QUEM DESEJA SER UM BOM JORNALISTA

O primeiro dever de quem deseja ser um bom jornalista é não cometer erros de prosódia. Um bom repórter, certa ocasião, pronunciou assim, tres vezes, o adjetivo e substantivo"perito", num programa de rádio:périto. Contei este fato ao programa Silveira Bueno, catedrático de Filosofia Portuguesa na USP, e ele me disse:

-Tais barbaridades são simplesmente espantosas e mostram imensa ignorancia de numerosos jornalistas. Silveira Bueno acrescentou:

-A expressão latina sine die, muito comum, significa "sem dia marcado". Daí vem frases como esta: "o encontro foi adiado sine die". Pois bem, um repórter usou a deste modo, pensando que é inglesa: saine dai...

O segundo dever de quem deseja ser um bom jornalista, é não ignorar o significado das palavras, é conhecer as suas sutilezas. Um bom jornalista não confunde amoral. Diversos povos primitivos eram amorais. Imoral é violar, por exemplo, os princípíos éticos de uma sociedade. Furtar é apoderar-se dos bens alheios, contra a vontade do dono ou sem que este saiba, mas deixando de lado a violencia. Roubar é subtrair com violencia, com ameaças. Despercebido se aplica á pessoa que não é notada, percebida. Desapercebido significa desprevenido ou desprovido: "em Los Angeles fiquei desapercebido de dólares". E possuir é se achar de posse de uma coisa temporária. Ter é ser dono legítimo de algo, de maneira completa.

Outro dever de quem quer pretende tornar-se um bom jornalista: conhecer as regras básicas de regencia verbal e de concordancia pronominal. Qualquer estudante de Jornalismo precisa saber quando o verbo é transitivo ou intransitivo,isto é, se ele, o verbo, não tendo sentido completo, exige um complemento (verbo transitivo), ou se, ao contrário, tendo sentido completo em si mesmo, dispensa o complemento (verbo intrasitivo), a idéia transita para o complemento: "Leio Luís de Camões, o nosso poeta" (Odilo Costa, filho, Boca da noite, Editora Salamandra, Rio de Janeiro, 1979, página 76).

No segundo caso (verbo intransitivo) a idéia não transíta entre o verbo e o complemento: "Um pé de milho nasceu no vaso".

A memorização de tais regras é fundamental para o jornalista escrever bem. Ignora-las é arriscar-se a partir frases a parir frases erradas, iguais a esta:"O rapaz lhe serve como criado".

Na acepção de estar a serviço de alguém, o verbo servir é transitivo direto. Portanto o correto é assim:"O rapaz o serve como criado".

Quem quiser tornar-se um bom jornalista deve também enriquecer o seu vocábulário, escrever com absoluta clareza a ter o senso crítico apurado, o dom da sín, a capacidade de saber usar com segurança, harmonicamente, esteticamente, os verbos, os advébios, as conjunções, os substantivos e os adjetivos.

Os jornalistas brasileiros, com raras exceções, nunca alcançaram prestígios como usuários da língua portuguesa. Quando Monteiro Lobato estava querendo torna-se um escritor dono do seu ofício- e para conseguir isto lia sem parar os livros d Camilo Castelo Branco- ele enviou a Godofredo Rangel uma carta, na qual confessou:"Tenho um inimigo á ilharga, que desfaz o que Camilo faz. É o jornal. Não dispenso a leitura diária de tres ou quatro desses infames massacradores da língua. Mas exercem uma função boa. Impedem-nos de nos afastar muito da realidade. Mesmo assim eu desejaria dispensá-lo. Mesmo assim eu desejaria dispensá-lo por alguns anos".

Escritor e jornalista, Fernado jorge é autor" Vida e poesia de Olavo Bilac", cujo 5º edição foi lançada pela Editora Século.

2 comentários:

  1. hola soy new aki solo pase a dejarte mi link chido blog http://wwwchatxat.blogspot.com/

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  2. Muito interessante esta postagem vou copia-la e usar como um ótimo conselho.
    Muito obrigado.
    Um forte abraço!!!
    Edilson.

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