Oposições da maior facção criminosa do país podem transformar São Paulo em guerra
Por Luiz Augusto
Fundada há dezesseis anos, dentro do Centro de Reabilitação
Penitenciária de Taubaté, a facção criminosa PCC (Primeiro Comando
da Capital), vêm atuando dentro e fora do sistema carcerário paulista
através do tráfico de drogas, assalto a bancos, homicídios, roubos de
cargas, sequestro, extorsão e outras práticas criminosas. Atualmente é chefiada por Marcos Wilians Herbas Camacho, o Marcola. Mas qualquer tipo de manifestação ou movimento contrário está atingindo a população de São Paulo. As facções criminosas que fazem oposição ao PCC.
Essa oposição é formada por CRBC (Comando Brasileiro Revolucionário
da Criminalidade), CDL (Comando Democrático da Liberdade), TCC
(Terceiro Comando da Capital), SS (Seita Satânica), SA (Sociedade
Anônima).
A oposição mais atuante e contundente é feita pelo CRBC, que foi
criado no Natal de 1999 e o fato mais curioso é que seus integrantes
são conhecidos popularmente como "coisa". Atualmente a facção domina a
penitenciária José Parada Neto, a P1 de Guarulhos e mais duas unidades
no interior de São Paulo. Dentre as ações mais conhecidas, o resgate
de dois presos feitos por um helicóptero, um deles era Dionísio de
Aquino Severo (um dos chefões da facção e morto logo depois pelo
PCC) e o assassinato de sete detentos da facção CDL, todos na mesma
cadeia.
Em 2003 foi fundado o TCC por dois ex-fundadores e líderes do PCC que foram excluídos por disputas internas.
Já o CDL foi criado em 1996 na Penitenciária I de Avaré e atualmente age em algumas prisões. A facção já participou de algumas rebeliões e
atua com crimes discretamente nas cidades, os seus integrantes são
popularmente conhecidos como "verme".
A SS foi criada para cultuar reuniões satânicas, e a S.A. que foi a última a ser fundada e,diferentemente das outras, foi criada fora dos estabelecimentos penais.
Todas essas facções possuem estatuto próprio e juntas não chegam a
dominar 5% da massa carcerária paulista.
Os criminosos dessas facções quando são presos e levados para alguma
cadeia, são colocados imediatamente no “seguro” (cela destinada aos
presos jurados de morte).
A maioria dos membros dessas organizações rivais do PCC quando são
libertados, quase sempre são assassinados pelos “irmãos do partido”
como são conhecidos os componentes do PCC.
Todas essas mortes acontecem quando um integrante de alguma
organização inimiga é seqüestrado e interrogado, quando essa suspeita
se confirma a vítima é executada sem perdão.
São diversas as maneiras que o PCC utiliza para saber de algum
desafeto é libertado da cadeia, e alguns artifícios são: através de
telefonemas efetuados dentro das penitenciarias em que avisam os
criminosos em plena atividade, que determinado preso de facção rival
foi libertado, e ex-detentos não filiados a nenhuma facção quando saem
e são reconhecidos por outros ex-detentos de organização rival ao
partido e que cumpriu pena na mesma cadeia, logo avisam a um membro do
PCC por intermédio de visitas.
Outro fator importante nessa rivalidade de facções é pelo simples fato
do preso sem nenhuma filiação a qualquer facção chegar a
penitenciarias de possíveis opositores e automaticamente se torna um
potencial inimigo.
O governo federal juntamente com as forças de segurança de São Paulo,
não possuem a quantidade de informações que o PCC tem em relação as
suas oposições. Caso possuam tais informações, não as transmitiram
para a imprensa e população.
Transtornos paulistanos
A realidade é que tais imagens inacreditáveis que acontecem no Rio de
Janeiro pelo domínio do tráfico de drogas entre CV (Comando
Vermelho), TC (Terceiro Comando), ADA (Amigo dos Amigos) e as
milícias que são formadas por militares como; bombeiros, policiais
corruptos e expulsos, que fazem várias vítimas, tanto pelo confronto
direto, como por balas perdidas decorrentes de tiroteios.
Esses acontecimentos poderão ocorrer no estado de São Paulo mais cedo
do que se imagina. Organizações criminosas de oposição ao comando
vermelho no Rio de Janeiro, quando foram fundadas também começaram
muito pequenas como CRBC e outras aqui em São Paulo, mas com o
tempo ampliaram seus poderes e hoje fazem frente à maior facção
criminosa carioca o CV.
Ataques às delegacias, carros e postos policiais, agências bancárias,
centrais de energia, transportes, comércio, toque de recolher, mortes,
saques, aulas e escolas paralisadas, e rebeliões em presídios pode ser
cotidiano na vida dos paulistanos.
Esses acontecimentos fizeram com que universitários tivessem as aulas
interrompidas pelas ameaças de bomba em algumas unidades em maio de
2006. A estudante de direito Kelly Salles, 29, sofreu com o caos. “Eu
estava no trabalho e fui avisada pelos meu superiores para ir embora,
quase não consegui voltar pra casa, é horrível pensar que pode
acontecer tudo de novo”, comenta.
O estudante de jornalismo Edilson de Oliveira, 30, disse, voltar para casa aquele dia foi um sacrifício. Todos comentavam sobre os ataques. A polícia estava atenta e defensiva. Quanto ao fato de enfrentar o mesmo transtorno novamente, desta vez por causa de guerra entre facções,diz:” podemos sim, vimos um fato semelhante que aconteceu há pouco tempo em Salvador, por causa da insatisfação na transferência de presos. Transportes parados já é costumeiro em São Paulo mas, como a três anos atrás é uma afronta ao direito do cidadão, vivenciamos um estado de guerra civil, e a policia não toma nenhuma providencia.” Em relação ao impacto e transtorno que causou em sua vida falou,” Esse episódio me deu uma dimensão maior do problema que o governo enfrenta, e me fez respeitar o crime organizado, como uma forma de organização mesmo. Não devemos menosprezar, aqueles que colocam o sistema inteiro da maior cidade do país contra a parede.”
Diante da violência aos ataques à policiais e suas famílias, o
policial militar João Santos, 37, que mora e trabalha na zona leste,
falou sobre o fato." Temo pela vida dos meus filhos e esposa mas,
tenho que trabalhar para sustentá-los, eles (bandidos) só agem na
covardia. Nos atacam desprevenidos, voltando do trabalho, quando
estamos com nossas famílias e até nossas residências. Sempre em maior
numero, com armas melhores e de maior calibre e nunca entram em
confronto direto contra nós.”lamenta o policial.
Em meio a possibilidade da população de São Paulo passar por momentos
difíceis novamente o sociólogo Jaime Amparo, 29, que faz doutorado na
Universidade do Texas e esta no Brasil fazendo pesquisa sobre
violência urbana, fala, “esses conflitos entre facções é uma das
múltiplas faces da violência urbana, em que a população pobre é a
principal vítima. A sociedade é vítima de um estado incompetente, que
não tem legitimidade social para proteger o cidadão por que ele tem se
comportado como bandido através de sua política de segurança baseado
na eliminação daqueles que são contra a lei. Só um fato como estes
justifica os crimes de maio de 2006. Perguntado sobre as chances dos
ocorridos a três anos acontecerem outra vez, diz,” Se a resposta que o
governo queria dar era por meio de punição exemplar, então falhou. Na
verdade ela foi tão pior que os ataques do PCC.
CINEMA
O problema é tão grave e real que já chegou ao cinema. Há um mês atrás estreou o longa”Salve Geral”do Diretor Sergio Resende. O filme retrata os acontecimentos que paralisaram todo o estado de São Paulo, em Maio de 2006.
Agora resta saber o que o cidadãos que sofrerão com todo aquele caos, acham de tal situação ir parar no cinema.
Fonte: Livro "PCC a FACÇÃO", escrito pela jornalista Fátima Souza, lançado em 2007, pela editora Record.
Site: www.spagora.com.br