sábado, 4 de julho de 2009

Mulheres sem distinção


Exposição fotográfica mostra mulheres de cinco continentes diferentes das mais variadas formas,sentidos etc...

Por Luiz Augusto

O que seria do mundo se não fossem as mulheres? São mães, avós, esposas, tias, filhas, irmãs, amigas e companheiras. Proporcionam a todos o bem mais valioso do ser humano: a vida. Jilian, estilista em Los Angeles, Rosie Marie, religiosa em Uganda, Bneita, vendedora de peças automotivas na Mauritânia. Todas tem em comum o seguinte fato: são sobreviventes.
Independente de suas diferenças vão desviando diariamente de vários obstáculos impostos por uma sociedade machista e opressora. Quem quiser ver a mulher de vários angulos na sociedade tem a oportunidade de apreciar a exposição “Mulheres do planeta” de Titouan Limazou, na OCA no Ibirapuera, São Paulo. Onde estão expostas mais de 3000 mil obras entre fotos, pintura, desenho e vídeos.

A exposição é um dos quarenta eventos que fazem parte do Ano da França no Brasil, ocupa uma área de, 6 mil metros quadrados, distribuídos em 4 andares. O nome da mostra fez jus ao conjunto de obras, que contem mulheres de todo o planeta, de todas etnias, profissões, classe social, sentimentos e opiniões. Do 1ºao 3 º andar exposição é dividida em painéis, cada um deles conta a história de uma ou duas mulheres através de fotos, pinturas e principalmente vídeos. Já no 4º andar esta expostas imagens de nu artístico que mostra a vida de profissionais do sexo e atrizes pornográficas, no outro lado retratos e textos que contam histórias de luta e vitórias de mulheres.

A primeira vista quem entra no local se depara com fotos coloridas de , grandes mulheres em várias situações. Mas não só as personagens chamam atenção mas, tambem a diversidade e as condições dos locais aonde as mulheres foram fotografadas. Ambientes como países em guerra, prostíbulos, acampamentos reservas indígenas, favelas, cavernas fazem parte da precariedade e casas luxuosas e prédios de alto padrão fazem parte do luxo.
As lentes das câmeras do autor focam pessoas que brigam pelos seus direitos mesmo morando em países onde colocam a mulher em situação de inferioridade e de subordinação, limitando sua autonomia, seu poder de escolha e de decisão. O exemplo mais comum é de países muçulmanos como a Indonésia,India em que a figura feminina não tem valor algum e a cultura local é de submissão total ao homem. A personagem Hirã, moradora de Rajastão na India pertence a uma casta de intocáveis fala que a sua própria sombra representa é motivo discriminação.

O objetivo do artista é mostrar o panorama feminino no mundo. Retratar alegrias e tristezas, conquistas e perdas. Traduzir seus dramas em arte. Através de entrevistas e depoimentos Titouan conheceu histórias tristes de mulheres que vivem em civilizações que as discriminam e privilegiam os homens. Mas também foi testemunha de mulheres militantes que não se deixaram levar pelo domínio masculino que são independentes que batalham por um mundo melhor. Com sua sensibilidade ele conseguiu entrar no universo feminino e ouvir verdadeiros “desabafos”, e o que mais importante: sem fazer juízo de valores.

Andando pelos corredores do pavilhão e visualizando as obras, percebe-se o contraste entre mulheres dos 5 continentes visitados pelo artista. Em alguns países do oriente médio e Ásia, a grande dificuldade das mulheres em trabalhar com arte, cultura, recreação e comunicação. Já em outras nações onde os costumes são ocidentais, mulheres são discriminadas mas, conseguem exercer suas profissões, expressar suas idéias e não se submeterem a mandos e desmandos masculinos, como a documentarista chinesa Yang Li Na que sonha em um dia sair de casa e filmar livremente sem ter medo o tempo todo.


Impressionados, admirados e surpresos


O público que prestigiou a exposição era variado. Adultos, idosos, jovens, crianças e estudantes. Muitos olhavam com admiração e espanto as diversas condições que a mulher vive mundo a fora.
O designer gráfico Cristian Reid, 21, gostou do nível de detalhamento das fotos. “Achei impressionante a resolução e nitidez das fotos. O artista procurou retratar a cultura de um lugar através das mulheres e posicionou bem os retratos para as pessoas não se habituarem com uma só cultura.”
O artista plástico Mauro Sergio Ramos, 28, gostou da montagem da exposição. “Achei ela bonita e bem montada. Vejo muito respeito e atenção as peculiaridades das pessoas, é um giro pelo mundo. Cada ambiente tem a sua beleza, mesmo tendo miséria e conflito. Ele somou duas coisas de bastante aceitação: beleza e mulher.”
Única mulher a ser entrevistada no local, a estudante de ciências políticas Paula Külne, 22, que mora na Alemanha, respondeu algumas perguntas sobre o evento e a atual situação das mulheres. "A exposição é muito impressionante pela sensibilidade dos desenhos, as diferentes vidas das mulheres. O autor não mostra só a beleza feminina mas, a sua personalidade e algo que elas tem a dizer em várias situações de vida. As mulheres tem bastante a melhorar na forma que é tratada. Os movimento femininos vão conquistar o mundo. A obra é magnífica."

O artista

O marroquino Titouan Lamazou, 54, não é só um fotografo. È também velejador, desenhista, pintor ou seja um artista completo. Com apenas 17 anos de idade entrou para conceituada Escola de Artes de Marselha. Passou por quinze países diferentes durante 8 anos. Ao longo desse tempo colocou a sua humildade em seus feitos e desenvolveu a habilidade de ouvir mulheres oprimidas que ao mesmo tempo contribuem a seu modo para melhorarem sua situação. Por causa de seu engajamento pela mulher criou a Lysistrata, uma ONG que luta pelos direitos femininos no mundo. Tem como objetivo informá-las através de palestras com educadoras e com suas ferramentas de trabalho. Ela esta presente em países da Europa, Ásia e América do Sul como o Brasil. Em virtude de suas expedições por diversos lugares, teve seu trabalho reconhecido ganhando em 2003 o premio de “Artista pela Paz’ concedido pela UNESCO(organização das nações unidas para a educação) e apoio financeiro da instituição.

Viagem ao Brasil

O Brasil também esta presente nas atividades do marroquino. No ano de 2004 quando esteve em território brasileiro e colocou em seu repertório a beleza feminina nacional. Percorreu os estados de Tocantins, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Colocou em prática sua ambição de mostrar a mulher num contexto geral, ele fotografou, desenhou e ouviu de anônimas a famosas. Pelo lado das ilustres fez parte da obra a atriz Dercy Gonçalves (1907-2008) e a ex Ministra do Meio Ambiente Marina Silva que, em forma de texto tem sua história de vida contada que passa por dificuldades , lutas e vitórias. Em relação as desconhecidas, fizeram parte mais de 10 brasileiras mas, o relato mais interessante é da catadora de lixo reciclável “Tiane” que logo depois virou modelo fotográfica.

Exposição “Mulheres do Planeta”

Artista: Titouan Lamazou
Período expositivo: até 11 de julho de 2009
Local: Oca – Pavilhão Lucas Nogueira Garcez.
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Portão 3. Parque do Ibirapuera
Horário: das 10:00 às 20:00hs
Preço: Estudantes R$ 5,50/ Não estudantes R$ 11,00
Patrocínio: Bradesco/Natura
Apoio: Unesco


Histórias de mulheres




ENILDA LUCIA SUZART MEDRADO, divorciada, mãe de três filhos, formada em História pela Unifai(Centro Universitário Assunção) militante do movimento negro, fundadora do núcleo de mulheres negras da ONG Educafro. Mora na periferia do Município de Suzano.

A história de vida de Enilda começa em 1968 quando se mudou do bairro de São Miguel(zona leste). Tinha o racismo como lado a lado quando criança. Quando estudava a 7º serie do ensino fundamental foi reprovada pelo fato que alunos(todos brancos) de sua classe não queriam fazer trabalhos escolares com ela. Esse acontecimento gerou uma depressão que, a fez não freqüentar as aulas, e acabou reprovada. Estudou até o primeiro ano do ensino médio na década de oitenta. Com quinze anos parou de estudar pelo fato de não conseguir conciliar as duas coisas por muitas dificuldades. Sempre se considerou uma militante por ser a única mulher entre 8 irmãos homens e na adolescente por se indignar com as injustiças que acontecia no seu bairro.

Ao mesmo tempo que diversas vezes ajudava pessoas do seu bairro a conseguir moradia, teve um irmão assassinado. Trabalhou em muitas empresas metalúrgicas como ajudante, carregando peso. Depois de casada e com filhos adolescentes, terminou o ensino médio através do supletivo, logo depois fez curso de Turismo em Mogi das Cruzes.
Em muitas de suas andanças conheceu o professor História Evaristo Pinto(o maior ativista negro do Alto Tietê), em 2004 e por ele foi apresentada a Educafro, uma ONG que tem com objetivo inserir negros e pobres nas universidades. Dali em diante começou a militar pela causa do negro no Brasil. No segundo semestre do ano de 2005 começou a fazer faculdade de História. Militando dentro da ONG e sentindo a necessidade de ter mulheres discutindo o gênero feminino com recorte racial, criou o Núcleo de Mulheres Negras. Um grupo de mulheres que se reúnem para discutir problemas costumeiros na vida de mulheres, como: saúde feminina, racismo por serem negras, discriminações no mercado de trabalho e outros. Perguntada sobre o que acha da situação das mulheres no Brasil diz,” nós precisamos nos unir, concientizarmos, articular, e perder a vergonha de ser negra.”

A serviço da ONG já viajou para alguns lugares do Brasil, como: Brasília, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Uma de suas maiores alegrias como militante foi conhecer o Frei Davi(fundador da Educafro) e participar do Forum Social Mundial realizado em Porto Alegre em 2003. Lá conheceu diversos pessoas que como ela lutam por um país mais justo e igual para todos. Nos dia de hoje divide o seu tempo dando aulas, fazendo serviço voluntário e prestigiando o sucesso dos filhos que estão fazendo faculdade.

ISLENNE APPARCIDA DE CARVALHO, 51, auxiliar de enfermagem, funcionária pública,separada, mãe de 3 filhos, moradora do bairro de Itaquera, Zona Leste
Nasceu na Bela Vista e foi criada em Suzano.Batalhadora desde quando nasceu, Islenne nunca se abateu com as dificuldades impostas pelo destino. Já criança foi tingida por vários dramas. Quando nasceu, sua mãe queria jogá-la num córrego, mas foi impedida por uma senhora de 1,65 m de altura, a senhora Maria Leonor, hoje sua verdadeira mãe. Com 14 anos já trabalhava em fabricas de sapato no bairro do Brás. O pouco que ganhava só dava para ajudar a mãe a comprar comida. Era uma ótima aluna quando estudava mas, com o serviço teve que parar com os estudos por não agüentar de sono na sala de aula.

Quando completou 18 anos prestou um concurso para a secretária de saúde de São Paulo. Foi aprovada, a partir desse momento sua vida mudou. Logo em seguida se tornou funcionária do Instituto Pasteur na avenida Paulista. Casou-se grávida aos 21 anos, sete anos depois se separou . No ano de 1988 voltou estudar através do supletivo no, período noturno. Muitas vezes deixava seu filho com 8 anos sozinho em casa, num bairro perigoso da periferia paulista. Ao terminar os estudos conseguiu uma bolsa de estudos integral para cursar o curso de auxiliar de enfermagem. Depois de 2 anos se formou e, conseguiu emprego numa grande empresa hospitalar.
Atualmente trabalha em dois serviços, possui mais dois filhos frutos de outro relacionamento e luta pela vida intenssamente. Participa de uma Associação que defende os direitos dos funcionários públicos. Perguntada sobre o que acha das mulheres brasileiras diz,” temos muito a conquistar, só vamos fazer isso no momentos em que nos organizarmos.”